Vou começar pelo bairro considerado o mais multi cultural da cidade e onde por coincidência moro e trabalho: Bom Retiro.
O Bom Retiro era no final do século XIX e início do XX, um "local de retiro" com chácaras onde os moradores da cidade vinham descansar nos finais de semana. Contava também com conventos (um deles hoje é o Museu de Arte Sacra, na Av. Tiradentes).
Passavam bondes e logo foi instalada a estação de trens, construída por ingleses e por isso o estilo inglês da construção, hoje a estação da Luz. Em razão desta estação de trem no bairro, os imigrantes que vinham de Santos começaram a se estabelecer por aqui, primeiramente os italianos e alguns poucos japoneses, que construíram um estádio de baiseball, perto da quadra da Gaviões da Fiel. Do início até metade do século XX vieram também os gregos.
Depois vieram os judeus de diversos pontos do mundo no início do século e em outra leva após a Segunda Guerra, principalmente da Europa, que tomaram conta do bairro até ser ocupado pelos coreanos. Os imigrantes mais recentes são os bolivianos, que fogem da miséria de seu país para costurar as confecções coreanas.
A presença judaica é forte, muitas propriedades ainda são de judeus e há muitas lojas, principalmente de tecidos. Na parte de comidas, ainda temos boas opções judaicas.
Vou começar falando dos amigos e ex-vizinhos Adi e Shoshana Baruch, donos do Adi Shoshi Delishop (Rua Correia de Melo, 206, tel. 3228-4774). Quando eu morava na Correia de Melo, todo dia passava lá para pelo menos comer à tarde os pavês ou o pudim de leite acompanhado de um expresso. As sexta-feiras mais frias são dias de se deliciar com o Tchulent, uma espécie de feijoada judaica com feijões brancos, galinha, carne de peito, cevadinha, batatas e kishque com schmaltz (tripa recheada com grãos e schmaltz=gordura de galinha). Mas não deixe de experimentar os varenikes (ravioles recheados com batata e cebola fritas), mish mash (patê de fígado de galinha com salada de ovos cozidos), os peitos de frango empanados com gergelim e fritos, a sardinha marinada e se nada disso apetecer, eles ainda preparam deliciosas massas italianas. E as sopas e suflês variados também, bem caseiros.
O serviço é super simpático com sistema de delishop (muitos pratos estão prontos na vitrine e são aquecidos no microondas a pedido do cliente), outros vêm das panelas na cozinha ou são finalizados/preparados ao serem pedidos.
Se quiser só um petisco, vá até a loja da mãe da Shoshana, a famosa Casa Bulgara (rua Silva Pinto, 356 e outros endereços, tel. 3222-9849), com suas campeãs burekas (segundo a Vejinha e Guia 4 Rodas). Essa rosca de massa folhada levíssima e crocante, leva vários recheios (carne com beringela, queijo, queijo com espinafre, carne, batatas, frango e o de gorgonzola) tradicionalmente salgados e agora também alguns doces. A casa fundada por dona Lona Levi é uma das maravilhas do bairro e quem quiser levar para casa, ela vende as burekas congeladas também. Ótima dica para quem não aguentar provar todos os sabores na loja, porque você vai querer experimentar todos.
Na Correia de Melo ainda, há a mais recente casa aberta com comidas judaicas, o Goody Chocolates (rua Correia de Melo, 123, tel. 3331-1288). É uma casa kasher, que serve além de chocolates, doces árabes (os donos são egípcios), tem serviço de um pequeno café e boulangerie.
A loja de outro amigo também não poderia faltar: a Doceria Burikita (rua Três Rios, 138, tel. 3227-2654). O David tem as burikitas (salgadinhos folhados crocantes com recheios de queijo e de batatas) e os maravilhosos doces como o gerbô, rocambole de figo com nozes, bolos diversos e se for época, os doces de morangos são divinos.
Falando em petiscos, não poderia deixar de falar do faláfel da Malka (Rua Rua José Paulino, 345 - loja 23-A Galeria Nova José Paulino, tel. 222-2157 - 222-6057). Faláfel são bolinhos de grão-de-bico moídos com temperos e fritos, acompanhados de picles, salada de pepinos e tomates e molho taratour no pão árabe. Podem ser servidos no pão ou no prato. Além disso, a Malka serve kaftas e outros pratos com sotaque árabe-israelense.
A Casa Menorah (rua Guarani, 144, tel.3228-6105 ) é outro lugar antigo que serve o bairro com especialidades judaicas. É bem mais um empório, mas podem ser degustadas alguns itens, como as famosas empadinhas e beigales. Lá vocês encontram challá fresquinha (pão judaico), hering em diversas preparações, pão de celobas e vários produtos kasher.
Mais como curiosidade, vou citar o açougue kasher Mehadrin (Rua Prates 689) e a peixaria kasher, que virou também empório o Beny´s Kosher Fish & Appetizing (Rua Mamoré 214 ), que fica a duas quadras de casa, mas ainda não visitei depois de ter virado empório.
O Bom Retiro é muito mais que a Rua José Paulino e confecções com preços convidativos. É um bairro cheio de História e cultura que vale a pena ser visitado.
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